No início do século XX, um médico americano de nome Duncan MacDougall quis provar que a alma exite. Pensou que, se de fato exite a alma, ela deve ser material. Sendo constituída de matéria, a alma deve ter massa e, consequentemente, peso. Se tem peso, deve ser possível medí-lo. Com base nesse raciocínio, o Dr. MacDougall mediu o peso de seis pessoas antes e depois de morrer e reparou que o fiel da balança sempre tendia para a queda do peso do já cadáver paciente.
O primeiro era um tuberculoso prestes a morrer. Segundo o Dr. MacDougall, logo após a morte, o inidivíduo perdeu 21g de sua massa, portanto esse deveria ser o peso da alma (uso o termo “peso” aqui lato sensu, sem a conotação de força física). O segundo paciente teria perdido 46g, ao passo que o terceiro perdeu 14g imediatamente e mais 28g após alguns minutos. Então, se interpretarmos esses dados, concluiríamos que a alma de pessoas diferente tem massas diferentes, certo? E ainda: algumas almas deixam o corpo aos poucos (vide o terceiro paciente). A interpretação dada ao autor do experimento foi que essas diferenças se relacionavam ao temperamento de cada um: o terceiro paciente seria apático (para não dizer lerdo) e sua alma teria permanecido em suspensão sobre o corpo até notar que estava livre.
Talvez Duncan MacDougall não conhecesse os fenômenos cadavéricos abióticos. O corpo sem vida perde água para o ambiente a uma taxa que varia com o tempo: quanto maior o tempo decorrido do evento morte, mais baixa essa taxa. Logo, a perda de massa que ele observou provavelmente decorreu da perda de água por dessecação tegumentar. Em indivíduos com temperatura corporal aumentada ante mortem, como é comum nas infecções e em paciente hospitalizados, a desidratação ocorre mais rapidamente. Será que a diferença de peso medida não era decorrente da dessecação?
Dr. MacDougall diria que não. Ele realizou experimentos semelhantes com cachorros e não constatou qualquer variação no peso. Concluiu que homens têm alma, cães não têm. Mas os cães têm o tegumento recoberto por pêlos e não possuem glândulas sudoríparas. A taxa de dessecação em seus corpos certamente é mais lenta que em seres humanos.
1) a morte não é um instante no tempo, mas um processo que se estendo por algum período. A diferença de massa, portanto, decorre da desidratação do corpo durante o processo de morte;
2) como argumentou um colega legista, quando da morte, os esfíncteres relaxam. Seria possível que gases intestinais tivessem sido liberados logo após a morte. Como todo gás tem peso, a liberação desses gases acarretaria perda de peso, ainda que pequena (que tal 21g?).
Para os curiosos, segue abaixo um link com o texto original do artigo publicado em 1907 pelo Dr. MacDougall sobre a hipótese da materialidade da alma: