
Certo, esse é o raciocínio. Agora vamos desmontá-lo:
(1) quase todas as pílulas de que tenho ouvido falar possuem principio ativo que, de alguma forma, atua na maturação do espermatozóide (isto é, no amadurecimento destas células – no processo meiótico, no desenvolvimento do flagelo, …). O fato do espermatozóide não estar maduro não significa que não estar presente no sêmen. Ele pode não ser capaz de nadar até o óvulo, mas é bem provável que ele ainda esteja presente no líquido ejaculado;
(2) mesmo que um remédio milagroso seja capaz de eliminar os espermatozóides de sêmen, ainda sim seria possível recuperar o perfil genético do dono. Isso porque no sêmen, ainda que em quantidade reduzida, há células epiteliais da escamação e outros resíduos celulares que podem conter material genético;
(3) com exceção dos serial rappists (como os serial killers, mas ao invés de matar em série, estupram em série), os estupros ocorrem majoritariamente por um questão de oportunidade: o indivíduo vê a vítima, tem a idéia e parte para o ataque. Em outras palavras, a maioria destes e outros crimes não são premeditados e, portanto, o estuprador não teria tempo hábil para se quer pensar em tomar uma pílula. Aliás, se ele tivesse que escolher, certamente escolheria a boa e velha camisinha: boa, barata e sem qualquer efeito colateral;
(4) o uso de contraceptivos químicos geralmente deixa algum resíduo no corpo. Na pílula feminina, por exemplo, é possível determinar se uma mulher faz ou não uso desses medicamentos mediante dosagem hormonal. Ora, será que no sêmen do indivíduo que fizer uso dessas pílulas não restará resíduo que denuncie seu uso?
Esse é só um ponto de vista. Como vêem, não entendo como um problema de segurança pública o uso da tal pílula masculina. Penso que ela criaria mais conflitos entre os casais (quem tomaria: o homem ou a mulher?) que entre as secretarias de saúde e de segurança pública.