Você já deve ter visto em algum filme, acompanhado ao vivo, ou até experimentado caminhar contra o vento. Se o vento é forte, é difícil vencer a sua força e notamos que muitas vezes ele pode nos empurrar para um rumo diferente do qual queremos ir. Se você não sabe do que estamos falando, veja um exemplo no vídeo abaixo:
Agora imagine a mesma situação com um caminhão. Será que Éolo, Deus dos Ventos, seria capaz de tombar um caminhão? Você deve estar pensando: “um caminhão é muito mais pesado do que uma pessoa e o vento nunca será capaz de interferir na sua direção de movimento”. Ok, um caminhão realmente possui uma massa muito maior que a de um ser humano, mas falando sobre veículos grandes e pesados vamos continuar o nosso exercício mental, pensando sobre as grandes embarcações.
Há muitos séculos, talvez milênios, o homem se utiliza de velas para se movimentar em rios e mares. Quando estas embarcações viajavam a favor do vento, içavam suas velas para aproveitar da força que ele produzia ao entrar em contato com a superfície dos tecidos presos aos mastros. Quanto maior era a embarcação, maiores e mais numerosas eram as velas. Mas o que acontecia quando o vento não era favorável, ou seja, quando o vento não soprava na direção em que as naus deviam rumar? Nesse caso, os navegadores eram obrigados a baixar as velas e usar os remos para levar a viagem adiante, caso contrário a embarcação seguiria na direção do vento.
Neste ponto você já deve estar convencido de que a força do vento é capaz de mover objetos extensos, e de grande massa, dependendo da área disponível para a sua atuação, mas, obviamente, existem ainda outras variáveis envolvidas.
Uma delas é o centro de gravidade. Todo objeto possui um centro de gravidade que depende de sua forma e da distribuição de massa. Neste caso, ao imaginarmos um caminhão sob a ação da força do vento temos que lembrar de um brinquedo comumente chamado de “joão bobo”. Este é um objeto que possui um centro de gravidade muito baixo, pois grande parte se sua massa é fixa e está próxima ao solo; sendo assim, é necessária uma força constante para que esse seja colocado na posição horizontal. No caso desse brinquedo, é impossível tombá-lo, pois a sua massa fixa e a base esférica fazem com que ele sempre retorne ao ponto de repouso, no qual o centro de gravidade está o mais próximo possível do solo. Mas e se o o seu centro de gravidade fosse mais alto e a massa não fosse fixa e pudesse se movimentar no seu interior?
O baú de um caminhão, em forma de paralelepípedo, está com o seu centro de massa acima do solo e, dependo da distribuição da carga, terá seu centro de massa deslocado, fazendo com que a força necessária para tombá-lo seja diferente em cada caso. Sendo assim, quando uma corrente de vento suficientemente forte incidir sobre a superfície lateral do baú, ele começará a oscilar em torno do seu centro de gravidade, como um “joão bobo”, e neste ponto duas coisas podem acontecer: 1) o motorista pode perder o controle do caminhão devido a estas oscilações e/ou 2) como a base do caminhão não é esférica como a do brinquedo, as oscilações podem passar do “ponto-de-não-retorno” e o baú irá tombar.
Além destas, outras variáveis são importantes, como por exemplo: as condições do asfalto, a inclinação da pista; se o veículo estava andando em linha reta ou fazendo uma curva e a velocidade com que o caminhão se movia.
Se você está pensando que tudo isso é muito complexo e envolve muitas variáveis, imagine que, até agora, só olhamos para esta situação sob as lentes de Sir Isaac Newton e ainda temos muito a considerar além da mecânica clássica.
Para a realização de um estudo detalhado precisamos considerar a mecânica dos fluidos, um ramo da física que estuda as propriedades e as interações de líquidos, gases e plasmas. O ar é um fluido e toda vez que nos movimentamos estamos interagindo com ele. Mas se o ar é tão leve será que ele é importante? Temos várias componentes da força causada pelo ar. Na direção oposta ao movimento temos a força de resistência do ar, que na maioria das vezes é a que mais nos importa aerodinamicamente (você já deve ter ouvido falar dos famosos experimentos em túneis de vento). Quando o vento lateral é forte, além da força exercida pelo vento distribuída na superfície lateral do caminhão, temos que levar em consideração o fluxo de ar que passa pelo vão entre o caminhão e o solo e pela sua parte superior. Se o vento passar mais rapidamente pela parte de cima do caminhão será criada uma força de sustentação (como na asa de um avião) e, dependendo da sua intensidade, poderá contribuir para um desequilíbrio ainda maior do veículo, já que esta força age para cima, diminuindo, assim, o peso do caminhão.

Alguns experimentos foram realizados juntamente com simulações de computador e acredita-se que ventos de aproximadamente 60 km/h podem virar caminhões. É claro que o valor específico para cada caso será diferente, pois caminhões vazios são mais fáceis de serem virados, devido à distribuição de massa da estrutura do baú, que faz com que o seu centro de massa esteja mais alto e seu peso menor. O tempo de exposição ao vento, o ângulo exato de incidência, o tamanho do caminhão, a habilidade do motorista em perceber a situação e realizar manobras para tentar corrigir qualquer problema na trajetória, de maneira sutil, também são fatores que implicam no resultado final.
No vídeo abaixo, por exemplo, o motorista foi capaz de evitar o tombamento do caminhão por meio de uma manobra. Repare que o caminhão começou a sair do chão:
Mas, respondendo à pergunta inicial: sim, Éolo seria capaz de tombar um caminhão! E com isso, o vento pode contribuir para um acidente de trânsito!